Por Carlos Bernardo Loureiro
O CAMPO MAGNÉTICO
Acreditamos que a maioria dos leitores saiba o que vem a ser um campo magnético. Pelo menos é raro encontrar-se alguém que ainda não tenha presenciado um fenômeno produzido pelo campo magnético; por exemplo: a agulha de uma bússola que teima em apontar para os pólos Norte e Sul da Terra. A bússola revela que nos achamos, desde que nascemos, mergulhados em um campo magnético, entretanto, nem percebemos tal situação. Conscientizamo-nos desse fato quando observamos o comportamento da agulha. Esse fenômeno ensina-nos, também, que nem sempre percebemos um dado tipo de campo, embora ele seja uma realidade. Assim, o fato de estarmos mergulhados em um campo magnético logo nos é revelado quando dispomos de uma bússola. Poderá ocorrer que sintamos a influência de uma campo, sem que necessitemos do auxílio de um aparelho especial. Por exemplo, notamos a ação do campo gravitacional da Terra, embora a agulha de uma bússola se mantenha sensível a esse campo. Esse fato revela-nos uma questão muito importante: os campos exigem meios adequados para detectá-los. Assim, um aparelho como a bússola detecta muito bem o campo magnético, mas fica indiferente ao campo gravitacional e ao campo elétrico também vice-versa, um voltímetro que registra o campo elétrico é insensível ao magnético e ao gravitacional.
Será que o fato de não percebemos um dado tipo de campo significa que sejamos totalmente imunes à ação do mesmo? Por exemplo, teria o campo magnético alguma influência sobre um ser vivo (nosso caso)? Houve uma época em que se acreditava que o ímã (campo magnético) possuísse propriedades curativas. O famoso médico e alquimista Auroelus Phillipus Theophrastus Paracelsus Bombast Von Hohenheim (1499-1541), mais conhecido pelo cognome de Paracelso, afirmava:
“Sustento clara e categoricamente, fundamentando-me no que a experiência me tem revelado, que o ímã guarda um altíssimo segredo que, enquanto permanecer desconhecido, nos impossibilitará toda a ação sobre muitas enfermidades”.
O ímã, segundo Paracelso, seria uma verdadeira Panacéia. Curaria praticamente todas as moléstias, as mais variadas e conhecidas em sua época, tais como: “O fluxo dos olhos, dos ouvidos, do nariz e das articulações externas; por este mesmo método curam-se as úlceras, as fístulas, o câncer e os fluxos menstruais, etc.”.
Sem embargo de tais afirmativas de Paracelso serem passíveis da desaprovação da medicina atual, elas eram aceitas naquelas época pelos seus numerosos seguidores, mais ainda, os médicos de então aplicavam o ímã, com sucesso, na cura das moléstias indicadas por Paracelso!
Foi exatamente um caso de cura de dores do estômago crônicas de uma senhora, e resistentes aos tratamentos convencionais, que levou Franz Anton Mesmer (1734-1815) a interessar-se por aquele processo terapêutico. Após algum tempo de observação, Mesmer chegou à conclusão de que não era o magnetismo do ímã, a causa das curas obtidas pela sua aplicação e sim outra espécie de “magnetismo”. Segundo Mesmer, era o Magnetismo Animal, a partir de 1776 Mesmer declarou-se contrário à teoria de Paracelso acerca das virtudes curativas atribuídas ao ímã. Ele conclui que o poder curativo devia-se a outro tipo de magnetismo, que não o físico produzido pelo ímã. Mesmer admitiu que havia, na realidade, um magnetismo animal produzido pelo terapeuta. Era esse “fluido vital” que produzia a cura das enfermidades, afirmativa a ele. Apoiado nessa hipótese, Mesmer efetuou também curas espetaculares!
Veremos, a seguir, que Mesmer estava correto ao considerar a inutilidade do ímã na cura das moléstias. Entretanto, não estamos afirmando, com isso, que as teorias de Mesmer são absolutamente certas. Tal questão foge à diretriz deste modesto trabalho.
OS FORTES CAMPOS MAGNÉTICOS AGEM SOBRE OS MEIOS BIOLÓGICOS.
Os ímãs usados por Paracelso e seus seguidores, portanto disponíveis naquela época, eram portadores de campo magnético muito fraco. Eram obtidos de um minério de ferro, a magnetita (óxido magnético de ferro).
Atualmente, pode dispor-se de campos magnéticos estáticos de grande intensidade, produzidos artificialmente por bobinas alimentadas por corrente elétrica. Além disso, existem ligas ferromagnéticas capazes de armazenar campos magnéticos estáticos, com as quais se fabricam superímãs de cerâmica, alnico, samário-cobalto e neodímio-ferro-boro. Esses ímãs chegam a alcançar campos remanescentes da ordem de 8.000 a 12.000 Gaus; centenas de vezes superiores aos ímãs disponíveis no tempo de Paracelso e Mesmer.
As pesquisas mais recentes, feitas com o campo magnético estágio de alta intensidade, revelaram que este campo inibe o desenvolvimento dos meios biológicos! O campo chega a ser letal para certos seres vivos! Vamos exemplificar:
Em 1948, na Universidade de Budapeste, o Dr. Jeno M. Barnothy levou a efeito uma interessante experiência com ratos submetidos a forte campo magnético estático. Dois grupos de ratos, de uma mesma ninhada de seis, foram selecionados para uma experiência em campo magnético estático de =~5.900 Oresteds (gradiente médio de 100 OE/cm). Cada grupo consistiu em um rato macho e duas fêmeas. Ambos os grupos foram alojados em caixas especiais, idênticas, dotadas de ventilação e demais acessórios para garantir água, alimentação, higiene e conforto.
Um desses dois grupos foi colocado entre os pólos de um eletroímã. O outro foi situado em idênticas condições entre os pólos de outro eletroímã igual, mas que iria manter-se desativado. Os ratos permanecem confinados quatro dias antes de uma dos magnetos ser ativado, a fim de ensejar o necessário acasalamento. Após essa fase preparatória, um dos eletroímãs foi ativado. Diariamente, ao meio dia, os ratos de ambos os grupos eram pesados, a fim de verificar-se o desenvolvimento dos mesmos e as eventuais alterações que poderiam ter sido provocadas nos que se encontravam sob a ação do campo magnético estático. Verificou-se que o campo magnético estático retardou o desenvolvimento dos ratos a ele submetidos. Tal diferença entre os dois grupos mostrou-se mais acentuada a partir do quinto dia. Daí em diante, o desenvolvimento dos ratos submetidos ao campo magnético tornou-se significativamente menor; uma das fêmeas não aumentou praticamente de peso durante as três semanas subsequentes sob a ação do campo. O macho começou a perder peso no décimo primeiro dia e morreu logo depois.
É importante assinalar que esse “efeito letal” nos ratos machos foi também observado em outras experiências semelhantes. Ainda sem uma explicação, tal fenômeno necessita de mais estudos.
As ratas fêmeas não mostraram nenhum sintoma que sugerisse outros efeitos adversos. Após quatro semanas de permanência sob a ação do campo, elas não haviam, até então, dado cria! Uma vez livres da ação do campo, foram acasaladas novamente e engravidaram normalmente, dando nascimento a descendentes perfeitos após vinte dias, período normal de gestação desses roedores. Tal efeito sugere que o campo magnético estático apenas inibiu o desenvolvimento do embrião que poderia ter resultado do primeiro acasalamento. A fertilidade das ratas não foi alterada, pois elas engravidaram quando acasaladas após haver cessado a exposição ao campo.
O pesquisador, Dr. Jeno M. Barnothy considerou que, sem dúvida, há muitos fatores que poderiam ter ocasionado o não desenvolvimento dos ratos. É admissível que o campo magnético houvesse provocado um ou outro desses fatores. “Todavia, não deve ser excluído que o campo magnético possa retardar as atividades mitóticas(*) em geral”, afirma ele.
A partir de 1948, o Dr. J. M. Barnothy levou a efeito outras experiências, a fim de verificar a influência do Campo magnético estático no desenvolvimento de embriões no útero de ratas, bem como sobre o crescimento de tumores implantados e espontâneos em ratos. Tais observações, justamente com o efeito do campo sobre a formação do sangue, apoiam a suposição de que o campo magnético estático retarda as atividades mitóticas em geral. (Barnothy, 1964, pp.93-99).
PRINCIPAIS EFEITOS PRODUZIDOS PELO CAMPO MAGNÉTICO ESTÁTICO
A lista dos efeitos observáveis, que o campo magnético estático pode produzir em seres vivos, é bastante ampla. Limitar-nos-emos a enumerar os que mais nos chamaram a atenção. São rejeição de tumores implantados; alterações hematológicas; retardamento na cura de ferimentos e na regeneração de tecidos; efeitos sobre o sistema nervoso central; queda da temperatura corporal; desaparecimento do ciclo do impulso reprodutor; reabsorção de embriões no útero; decréscimo na respiração dos tecidos; inibição de culturas bactéricas durante sua fase estacionária máxima e alterações patológicas no fígado”. (Barnothy, 1964, p.18).
As explicações para esses efeitos, em sua grande maioria inibitórios em relação ao desenvolvimento dos meios biológicos, podem ser variadas. Algumas delas, as mais imediatas, basear-se-iam na possível alteração de algumas propriedades físico-químicas das substâncias orgânicas.
A primeira substância em que se pensa, quando se observa o fenômeno do retardamento provocado pelo campo magnético, no processo de desenvolvimento de alguns vivos como os ratos, é a tripsina. Essa substância é encontrada no suco pancreático e é fator muito importante na nutrição dos animais. A tripsina é uma enzima catalisadora da hidrólise das proteínas, facilitando o desdobramento dessas substâncias em peptinas, polipeptídeos e, finalmente, em aminoácidos. Desse modo, as proteínas ingeridas nos alimentos conseguem ser aproveitadas pelos animais, pois esses somente podem absorver os produtos resultantes da digestão das moléculas proteicas, graças à tripsina presente no suco gástrico. As proteínas são moléculas muito grandes e, por isso, não caberiam nos finíssimos canais das vilosidades intestinais. As moléculas dos aminoácidos são pequenas e conseguem passar por aqueles canalículos. Se faltar tripsina no suco gástrico, o animal come proteínas, mas não consegue digeri-las e assimilá-las, advindo daí a redução no seu desenvolvimento e até mesmo a morte por desnutrição.
Será que o campo magnético estático teria alguma influência sobre a tripsina? Se fosse esse o caso, teríamos explicado a ação inibidora do crescimento dos ratos e vários outros processos dependentes da nutrição e assimilação das substâncias proteicas. Naturalmente não se explicariam outros fenômenos como a reabsorção de embriões no útero, a rejeição de tumores implantados, o retardamento na cura dos ferimentos e regeneração dos tecidos; os efeitos sobre o sistema nervoso central; a queda de temperatura corporal etc. Entretanto, talvez a ação muito prolongada da desnutrição proteica pudesse provocar alguns dos distúrbios enunciados. Mas, experiências feitas com o objetivo de verificar a ação do Campo magnético estático sobre a tripsina mostraram que, pelo contrário, o campo magnético ajuda a ativar e mesmo restabelecer as propriedades proteolíticas daquela enzima! (Cook e Smith, 1964, pp.246-256). Logo, os seres vivos submetidos à ação de fortes campos magnéticos deveriam, ao contrário, sofrer um estímulo em seu desenvolvimento. No entanto, observa-se exatamente o contrário. Qual seria a causa, ou causas, dessa ação inibidora dos processos biológicos provocada pela exposição a um forte campo magnético estático? Talvez devêssemos procurar explicações baseadas em outros princípios que não os físico-químicos apenas.
O fato de registrar-se casos de inibição no desenvolvimento de embriões, até mesmo, a reabsorção de embriões no útero de ratas, retardamento no crescimento de ratos jovens, rejeição de tumores implantados, bem como atraso na cicatrização de ferimentos e outros processos dependentes de multiplicação celular, faz-nos pensar na possibilidade de interferência do campo magnético sobre outro tipo já suspeitado de campo biológico implicado na morfogênese e manutenção dos seres vivos. (Burr, 1972; Andrade, 1958, 1984, 1986; Sheldrake, 1981, 1988, 1991).
O HIPOTÉTICO CAMPO DA VIDA
Em meio à imensa variedade dos fenômenos naturais, a vida se destaca como o mais estranho e singular. Enquanto a tendência dos processos físicos e químicos é, da desorganização progressiva, do crescente desnível energético, da marcha para os estados mais prováveis, a vida surge como uma corrente oposta a essa meta universal! A vida tende para a organização crescente, para a evolução constante em busca do aperfeiçoamento em todos os sentidos, inclusive demandando alcançar o controle das leis que governam a matéria!
Em resumo, a vida é antientrópica e, com isso, ela contraria o segundo princípio da termodinâmica, que é uma lei universal.
Para explicar o surgimento da vida em nosso planeta, sem lançar mão de ideias religiosas criacionistas, os pensadores imaginaram várias teorias. Tais teorias podem dividir-se em duas grandes categorias, as mecanicistas e as vitalistas.
As primeiras, as mecanicistas, admitem que a própria matéria orgânica, após atingir um determinado estágio de complexidade e devido a fatores ainda desconhecidos, mas exclusivamente materiais, alcançou o nível biológico e prosseguiu daí em sua marcha ascensional de aperfeiçoamento, graças à seleção natural.
As hipóteses vitalistas consideram, também, como imprescindível o estágio orgânico complexo da substância a ser vitalizada, mas não aceitam a possibilidade da passagem espontânea do estado da matéria inerte para o de matéria viva. Os vitalistas supõem que essa transição só é possível mediante a intervenção de um princípio animador capaz de vivificar a matéria orgânica já em condições de recebê-lo e alojá-lo. Esse fator vitalizador seria o único de subtrair o composto orgânico à fatalidade entrópica devida ao segundo princípio da termodinâmica. Unida ao referido fator, a matéria inerte passaria ao estágio biológico e continuaria daí por diante em evolução constante graças ao mesmo fator auxiliado pela seleção natural.
Os vitalistas mais antigos supunham que referido fator seria uma espécie de ar que penetrava no organismo a ser vivificado. No Gênese, II-7, lê-se que o criador, após haver formado o primeiro homem, soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida e tornou-o um ser vivente. Com o evoluir da ciência, os vitalistas foram definindo melhor a sua concepção acerca do princípio vitalizador. Ultimamente, os mais modernos atribuem a um campo morfogenético o fator capaz de dar partida aos processos biológicos. Inicialmente pouco precisa, a descrição do princípio vitalizador passou a assumir maior coerência e clareza, graças aos trabalhos de Harold Saxton Burr e seus colegas (Burr, 1957, 1972) e às ideias de Rupert Sheldrake (Sheldrake, 1981, 9188, 1991).
A tendência, atualmente, é para atribuir-se a um campo de forças o processo de vitalização da matéria orgânica. Naturalmente, o mecanismo desse processo é mais complexo do que possa imaginar simplesmente em termos de nossa física corrente. O citado Campo seria também responsável pela organização da forma do ser vivo. Daí a denominação dada por Sheldrake: campo morfogenético. A atuação desse campo far-se-ia mediante uma ressonância mórfica. (Sheldrake, 1991, pp. 115-118).
Experiências mais recentes, levadas a efeito no Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas – IBPP, parecem dar apoio às ideias vitalistas. Especialmente às teorias de Harold Saxton Burr e de Rupert Sheldrake, particularmente desse último. Entretanto, a hipótese de trabalho adotada pela equipe do IBPP implica a aceitação da tese espírita, que admite a sobrevivência do espírito. (Andrade, 1958, 1994 e 1986).
Andrade reconhece que, a inclusão das ideias espíritas em sua teoria, torna-a dificilmente aceitável pela atual mentalidade científica. Todavia, a hipótese espírita está tendo cada vez maior apoio nos fatos. Não nos referimos à abundante fenomenologia que surgiu nos séculos XVII e XIX, cujos resultados foram desprezados, em sua maioria, sob a alegação de fraude ou inconsistência do método experimental. Apontamos as modernas observações de casos de experiências de quase morte (EQM), as visões em leito de morte (VLM), as experiências fora do corpo (EFC), os casos que sugerem reencarnação (CSR) e as experiências de transcomunicação instrumental (TCI) como as mais recentes evidências a favor da existência e sobrevivência do espírito após a morte do corpo físico. Pensamos que o establishment científico terá de mudar a sua posição neste sentido, no século que se avizinha. A essas evidências acrescentar-se-iam os resultados das experiências laboratoriais da equipe do IBPP, acerca do campo biomagnético. Tais experiências foram inicialmente realizadas em São Paulo no ano de 1967 e pouco depois interrompidas, após promissores resultados.
Em junho de 1995, as pesquisas a respeito do campo biomagnético foram retomadas no laboratório do IBPP, então em sua nova sede na cidade de Bauru, SP. Novos aparelhos e nova equipe foram empregados nessa segunda fase de investigações do hipotético campo da vida. Sem querer dar como definitiva a descoberta desse novo tipo de campo, queremos informar que há grandes probabilidades de que tal fato tenha ocorrido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, H. G.: (1958) – A Teoria Corpuscular do Espírito. São Paulo: Edição do Autor.
(1984) – Espírito e Alma. São Paulo: Pensamento.
(1986) – Psi Quântico. São Paulo.
BARNOTHY, Madeleine F.: (1964) – Biological Effects of Magnetic Fields. New York: Plenum Press.
BURR, H. S.: (1957) – The Electrodynamic Theory of Life. Yale Journal of Biology and Medicine. Vol.30, nº3.
(1972) – Blueprint for Immortality. London: Neville Spearman.
COOK, Elton S.; SMITH, M. Justa, O.S.F.: (1964) – Increase of Activity, in Biological Effects of Magnetic Fields. New York: Plenum Press.
SHELDRAKE, Rupert: (1981) – A New Science of Life. Los Angeles: J. P. Tar Cher.
(1988) – The Presence of the Past. London: Collins.
(1991) – O Renascimento da Natureza. Trad. Maria de Lourdes Eichenberger e Newton Roberval Eichenberg. São Paulo: Cultrix.
(*) Mitóticas – de mitose = divisão celular, na qual o núcleo forma cromossomo e estes se bipartem, produzindo dois núcleos filhos com o mesmo patrimônio genético original.
Acreditamos que a maioria dos leitores saiba o que vem a ser um campo magnético. Pelo menos é raro encontrar-se alguém que ainda não tenha presenciado um fenômeno produzido pelo campo magnético; por exemplo: a agulha de uma bússola que teima em apontar para os pólos Norte e Sul da Terra. A bússola revela que nos achamos, desde que nascemos, mergulhados em um campo magnético, entretanto, nem percebemos tal situação. Conscientizamo-nos desse fato quando observamos o comportamento da agulha. Esse fenômeno ensina-nos, também, que nem sempre percebemos um dado tipo de campo, embora ele seja uma realidade. Assim, o fato de estarmos mergulhados em um campo magnético logo nos é revelado quando dispomos de uma bússola. Poderá ocorrer que sintamos a influência de uma campo, sem que necessitemos do auxílio de um aparelho especial. Por exemplo, notamos a ação do campo gravitacional da Terra, embora a agulha de uma bússola se mantenha sensível a esse campo. Esse fato revela-nos uma questão muito importante: os campos exigem meios adequados para detectá-los. Assim, um aparelho como a bússola detecta muito bem o campo magnético, mas fica indiferente ao campo gravitacional e ao campo elétrico também vice-versa, um voltímetro que registra o campo elétrico é insensível ao magnético e ao gravitacional.
Será que o fato de não percebemos um dado tipo de campo significa que sejamos totalmente imunes à ação do mesmo? Por exemplo, teria o campo magnético alguma influência sobre um ser vivo (nosso caso)? Houve uma época em que se acreditava que o ímã (campo magnético) possuísse propriedades curativas. O famoso médico e alquimista Auroelus Phillipus Theophrastus Paracelsus Bombast Von Hohenheim (1499-1541), mais conhecido pelo cognome de Paracelso, afirmava:
“Sustento clara e categoricamente, fundamentando-me no que a experiência me tem revelado, que o ímã guarda um altíssimo segredo que, enquanto permanecer desconhecido, nos impossibilitará toda a ação sobre muitas enfermidades”.
O ímã, segundo Paracelso, seria uma verdadeira Panacéia. Curaria praticamente todas as moléstias, as mais variadas e conhecidas em sua época, tais como: “O fluxo dos olhos, dos ouvidos, do nariz e das articulações externas; por este mesmo método curam-se as úlceras, as fístulas, o câncer e os fluxos menstruais, etc.”.
Sem embargo de tais afirmativas de Paracelso serem passíveis da desaprovação da medicina atual, elas eram aceitas naquelas época pelos seus numerosos seguidores, mais ainda, os médicos de então aplicavam o ímã, com sucesso, na cura das moléstias indicadas por Paracelso!
Foi exatamente um caso de cura de dores do estômago crônicas de uma senhora, e resistentes aos tratamentos convencionais, que levou Franz Anton Mesmer (1734-1815) a interessar-se por aquele processo terapêutico. Após algum tempo de observação, Mesmer chegou à conclusão de que não era o magnetismo do ímã, a causa das curas obtidas pela sua aplicação e sim outra espécie de “magnetismo”. Segundo Mesmer, era o Magnetismo Animal, a partir de 1776 Mesmer declarou-se contrário à teoria de Paracelso acerca das virtudes curativas atribuídas ao ímã. Ele conclui que o poder curativo devia-se a outro tipo de magnetismo, que não o físico produzido pelo ímã. Mesmer admitiu que havia, na realidade, um magnetismo animal produzido pelo terapeuta. Era esse “fluido vital” que produzia a cura das enfermidades, afirmativa a ele. Apoiado nessa hipótese, Mesmer efetuou também curas espetaculares!
Veremos, a seguir, que Mesmer estava correto ao considerar a inutilidade do ímã na cura das moléstias. Entretanto, não estamos afirmando, com isso, que as teorias de Mesmer são absolutamente certas. Tal questão foge à diretriz deste modesto trabalho.
OS FORTES CAMPOS MAGNÉTICOS AGEM SOBRE OS MEIOS BIOLÓGICOS.
Os ímãs usados por Paracelso e seus seguidores, portanto disponíveis naquela época, eram portadores de campo magnético muito fraco. Eram obtidos de um minério de ferro, a magnetita (óxido magnético de ferro).
Atualmente, pode dispor-se de campos magnéticos estáticos de grande intensidade, produzidos artificialmente por bobinas alimentadas por corrente elétrica. Além disso, existem ligas ferromagnéticas capazes de armazenar campos magnéticos estáticos, com as quais se fabricam superímãs de cerâmica, alnico, samário-cobalto e neodímio-ferro-boro. Esses ímãs chegam a alcançar campos remanescentes da ordem de 8.000 a 12.000 Gaus; centenas de vezes superiores aos ímãs disponíveis no tempo de Paracelso e Mesmer.
As pesquisas mais recentes, feitas com o campo magnético estágio de alta intensidade, revelaram que este campo inibe o desenvolvimento dos meios biológicos! O campo chega a ser letal para certos seres vivos! Vamos exemplificar:
Em 1948, na Universidade de Budapeste, o Dr. Jeno M. Barnothy levou a efeito uma interessante experiência com ratos submetidos a forte campo magnético estático. Dois grupos de ratos, de uma mesma ninhada de seis, foram selecionados para uma experiência em campo magnético estático de =~5.900 Oresteds (gradiente médio de 100 OE/cm). Cada grupo consistiu em um rato macho e duas fêmeas. Ambos os grupos foram alojados em caixas especiais, idênticas, dotadas de ventilação e demais acessórios para garantir água, alimentação, higiene e conforto.
Um desses dois grupos foi colocado entre os pólos de um eletroímã. O outro foi situado em idênticas condições entre os pólos de outro eletroímã igual, mas que iria manter-se desativado. Os ratos permanecem confinados quatro dias antes de uma dos magnetos ser ativado, a fim de ensejar o necessário acasalamento. Após essa fase preparatória, um dos eletroímãs foi ativado. Diariamente, ao meio dia, os ratos de ambos os grupos eram pesados, a fim de verificar-se o desenvolvimento dos mesmos e as eventuais alterações que poderiam ter sido provocadas nos que se encontravam sob a ação do campo magnético estático. Verificou-se que o campo magnético estático retardou o desenvolvimento dos ratos a ele submetidos. Tal diferença entre os dois grupos mostrou-se mais acentuada a partir do quinto dia. Daí em diante, o desenvolvimento dos ratos submetidos ao campo magnético tornou-se significativamente menor; uma das fêmeas não aumentou praticamente de peso durante as três semanas subsequentes sob a ação do campo. O macho começou a perder peso no décimo primeiro dia e morreu logo depois.
É importante assinalar que esse “efeito letal” nos ratos machos foi também observado em outras experiências semelhantes. Ainda sem uma explicação, tal fenômeno necessita de mais estudos.
As ratas fêmeas não mostraram nenhum sintoma que sugerisse outros efeitos adversos. Após quatro semanas de permanência sob a ação do campo, elas não haviam, até então, dado cria! Uma vez livres da ação do campo, foram acasaladas novamente e engravidaram normalmente, dando nascimento a descendentes perfeitos após vinte dias, período normal de gestação desses roedores. Tal efeito sugere que o campo magnético estático apenas inibiu o desenvolvimento do embrião que poderia ter resultado do primeiro acasalamento. A fertilidade das ratas não foi alterada, pois elas engravidaram quando acasaladas após haver cessado a exposição ao campo.
O pesquisador, Dr. Jeno M. Barnothy considerou que, sem dúvida, há muitos fatores que poderiam ter ocasionado o não desenvolvimento dos ratos. É admissível que o campo magnético houvesse provocado um ou outro desses fatores. “Todavia, não deve ser excluído que o campo magnético possa retardar as atividades mitóticas(*) em geral”, afirma ele.
A partir de 1948, o Dr. J. M. Barnothy levou a efeito outras experiências, a fim de verificar a influência do Campo magnético estático no desenvolvimento de embriões no útero de ratas, bem como sobre o crescimento de tumores implantados e espontâneos em ratos. Tais observações, justamente com o efeito do campo sobre a formação do sangue, apoiam a suposição de que o campo magnético estático retarda as atividades mitóticas em geral. (Barnothy, 1964, pp.93-99).
PRINCIPAIS EFEITOS PRODUZIDOS PELO CAMPO MAGNÉTICO ESTÁTICO
A lista dos efeitos observáveis, que o campo magnético estático pode produzir em seres vivos, é bastante ampla. Limitar-nos-emos a enumerar os que mais nos chamaram a atenção. São rejeição de tumores implantados; alterações hematológicas; retardamento na cura de ferimentos e na regeneração de tecidos; efeitos sobre o sistema nervoso central; queda da temperatura corporal; desaparecimento do ciclo do impulso reprodutor; reabsorção de embriões no útero; decréscimo na respiração dos tecidos; inibição de culturas bactéricas durante sua fase estacionária máxima e alterações patológicas no fígado”. (Barnothy, 1964, p.18).
As explicações para esses efeitos, em sua grande maioria inibitórios em relação ao desenvolvimento dos meios biológicos, podem ser variadas. Algumas delas, as mais imediatas, basear-se-iam na possível alteração de algumas propriedades físico-químicas das substâncias orgânicas.
A primeira substância em que se pensa, quando se observa o fenômeno do retardamento provocado pelo campo magnético, no processo de desenvolvimento de alguns vivos como os ratos, é a tripsina. Essa substância é encontrada no suco pancreático e é fator muito importante na nutrição dos animais. A tripsina é uma enzima catalisadora da hidrólise das proteínas, facilitando o desdobramento dessas substâncias em peptinas, polipeptídeos e, finalmente, em aminoácidos. Desse modo, as proteínas ingeridas nos alimentos conseguem ser aproveitadas pelos animais, pois esses somente podem absorver os produtos resultantes da digestão das moléculas proteicas, graças à tripsina presente no suco gástrico. As proteínas são moléculas muito grandes e, por isso, não caberiam nos finíssimos canais das vilosidades intestinais. As moléculas dos aminoácidos são pequenas e conseguem passar por aqueles canalículos. Se faltar tripsina no suco gástrico, o animal come proteínas, mas não consegue digeri-las e assimilá-las, advindo daí a redução no seu desenvolvimento e até mesmo a morte por desnutrição.
Será que o campo magnético estático teria alguma influência sobre a tripsina? Se fosse esse o caso, teríamos explicado a ação inibidora do crescimento dos ratos e vários outros processos dependentes da nutrição e assimilação das substâncias proteicas. Naturalmente não se explicariam outros fenômenos como a reabsorção de embriões no útero, a rejeição de tumores implantados, o retardamento na cura dos ferimentos e regeneração dos tecidos; os efeitos sobre o sistema nervoso central; a queda de temperatura corporal etc. Entretanto, talvez a ação muito prolongada da desnutrição proteica pudesse provocar alguns dos distúrbios enunciados. Mas, experiências feitas com o objetivo de verificar a ação do Campo magnético estático sobre a tripsina mostraram que, pelo contrário, o campo magnético ajuda a ativar e mesmo restabelecer as propriedades proteolíticas daquela enzima! (Cook e Smith, 1964, pp.246-256). Logo, os seres vivos submetidos à ação de fortes campos magnéticos deveriam, ao contrário, sofrer um estímulo em seu desenvolvimento. No entanto, observa-se exatamente o contrário. Qual seria a causa, ou causas, dessa ação inibidora dos processos biológicos provocada pela exposição a um forte campo magnético estático? Talvez devêssemos procurar explicações baseadas em outros princípios que não os físico-químicos apenas.
O fato de registrar-se casos de inibição no desenvolvimento de embriões, até mesmo, a reabsorção de embriões no útero de ratas, retardamento no crescimento de ratos jovens, rejeição de tumores implantados, bem como atraso na cicatrização de ferimentos e outros processos dependentes de multiplicação celular, faz-nos pensar na possibilidade de interferência do campo magnético sobre outro tipo já suspeitado de campo biológico implicado na morfogênese e manutenção dos seres vivos. (Burr, 1972; Andrade, 1958, 1984, 1986; Sheldrake, 1981, 1988, 1991).
O HIPOTÉTICO CAMPO DA VIDA
Em meio à imensa variedade dos fenômenos naturais, a vida se destaca como o mais estranho e singular. Enquanto a tendência dos processos físicos e químicos é, da desorganização progressiva, do crescente desnível energético, da marcha para os estados mais prováveis, a vida surge como uma corrente oposta a essa meta universal! A vida tende para a organização crescente, para a evolução constante em busca do aperfeiçoamento em todos os sentidos, inclusive demandando alcançar o controle das leis que governam a matéria!
Em resumo, a vida é antientrópica e, com isso, ela contraria o segundo princípio da termodinâmica, que é uma lei universal.
Para explicar o surgimento da vida em nosso planeta, sem lançar mão de ideias religiosas criacionistas, os pensadores imaginaram várias teorias. Tais teorias podem dividir-se em duas grandes categorias, as mecanicistas e as vitalistas.
As primeiras, as mecanicistas, admitem que a própria matéria orgânica, após atingir um determinado estágio de complexidade e devido a fatores ainda desconhecidos, mas exclusivamente materiais, alcançou o nível biológico e prosseguiu daí em sua marcha ascensional de aperfeiçoamento, graças à seleção natural.
As hipóteses vitalistas consideram, também, como imprescindível o estágio orgânico complexo da substância a ser vitalizada, mas não aceitam a possibilidade da passagem espontânea do estado da matéria inerte para o de matéria viva. Os vitalistas supõem que essa transição só é possível mediante a intervenção de um princípio animador capaz de vivificar a matéria orgânica já em condições de recebê-lo e alojá-lo. Esse fator vitalizador seria o único de subtrair o composto orgânico à fatalidade entrópica devida ao segundo princípio da termodinâmica. Unida ao referido fator, a matéria inerte passaria ao estágio biológico e continuaria daí por diante em evolução constante graças ao mesmo fator auxiliado pela seleção natural.
Os vitalistas mais antigos supunham que referido fator seria uma espécie de ar que penetrava no organismo a ser vivificado. No Gênese, II-7, lê-se que o criador, após haver formado o primeiro homem, soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida e tornou-o um ser vivente. Com o evoluir da ciência, os vitalistas foram definindo melhor a sua concepção acerca do princípio vitalizador. Ultimamente, os mais modernos atribuem a um campo morfogenético o fator capaz de dar partida aos processos biológicos. Inicialmente pouco precisa, a descrição do princípio vitalizador passou a assumir maior coerência e clareza, graças aos trabalhos de Harold Saxton Burr e seus colegas (Burr, 1957, 1972) e às ideias de Rupert Sheldrake (Sheldrake, 1981, 9188, 1991).
A tendência, atualmente, é para atribuir-se a um campo de forças o processo de vitalização da matéria orgânica. Naturalmente, o mecanismo desse processo é mais complexo do que possa imaginar simplesmente em termos de nossa física corrente. O citado Campo seria também responsável pela organização da forma do ser vivo. Daí a denominação dada por Sheldrake: campo morfogenético. A atuação desse campo far-se-ia mediante uma ressonância mórfica. (Sheldrake, 1991, pp. 115-118).
Experiências mais recentes, levadas a efeito no Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas – IBPP, parecem dar apoio às ideias vitalistas. Especialmente às teorias de Harold Saxton Burr e de Rupert Sheldrake, particularmente desse último. Entretanto, a hipótese de trabalho adotada pela equipe do IBPP implica a aceitação da tese espírita, que admite a sobrevivência do espírito. (Andrade, 1958, 1994 e 1986).
Andrade reconhece que, a inclusão das ideias espíritas em sua teoria, torna-a dificilmente aceitável pela atual mentalidade científica. Todavia, a hipótese espírita está tendo cada vez maior apoio nos fatos. Não nos referimos à abundante fenomenologia que surgiu nos séculos XVII e XIX, cujos resultados foram desprezados, em sua maioria, sob a alegação de fraude ou inconsistência do método experimental. Apontamos as modernas observações de casos de experiências de quase morte (EQM), as visões em leito de morte (VLM), as experiências fora do corpo (EFC), os casos que sugerem reencarnação (CSR) e as experiências de transcomunicação instrumental (TCI) como as mais recentes evidências a favor da existência e sobrevivência do espírito após a morte do corpo físico. Pensamos que o establishment científico terá de mudar a sua posição neste sentido, no século que se avizinha. A essas evidências acrescentar-se-iam os resultados das experiências laboratoriais da equipe do IBPP, acerca do campo biomagnético. Tais experiências foram inicialmente realizadas em São Paulo no ano de 1967 e pouco depois interrompidas, após promissores resultados.
Em junho de 1995, as pesquisas a respeito do campo biomagnético foram retomadas no laboratório do IBPP, então em sua nova sede na cidade de Bauru, SP. Novos aparelhos e nova equipe foram empregados nessa segunda fase de investigações do hipotético campo da vida. Sem querer dar como definitiva a descoberta desse novo tipo de campo, queremos informar que há grandes probabilidades de que tal fato tenha ocorrido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, H. G.: (1958) – A Teoria Corpuscular do Espírito. São Paulo: Edição do Autor.
(1984) – Espírito e Alma. São Paulo: Pensamento.
(1986) – Psi Quântico. São Paulo.
BARNOTHY, Madeleine F.: (1964) – Biological Effects of Magnetic Fields. New York: Plenum Press.
BURR, H. S.: (1957) – The Electrodynamic Theory of Life. Yale Journal of Biology and Medicine. Vol.30, nº3.
(1972) – Blueprint for Immortality. London: Neville Spearman.
COOK, Elton S.; SMITH, M. Justa, O.S.F.: (1964) – Increase of Activity, in Biological Effects of Magnetic Fields. New York: Plenum Press.
SHELDRAKE, Rupert: (1981) – A New Science of Life. Los Angeles: J. P. Tar Cher.
(1988) – The Presence of the Past. London: Collins.
(1991) – O Renascimento da Natureza. Trad. Maria de Lourdes Eichenberger e Newton Roberval Eichenberg. São Paulo: Cultrix.
(*) Mitóticas – de mitose = divisão celular, na qual o núcleo forma cromossomo e estes se bipartem, produzindo dois núcleos filhos com o mesmo patrimônio genético original.